terça-feira, 8 de abril de 2014

Mudaram as estações



  

   As estações mudaram, o verão se foi e com ele um movimento incontrolável, cheio de energia e emoções, adaptação de vida e de sentimentos. E esse movimento foi intenso, parecia não caber dentro de mim e às vezes extravasava em choro, doença, emoção e alegria, para enfim se aquietar e me levar a mudanças.

   A adaptação na escola foi tranquila, Nathan foi chegando aos pouquinhos e ficando cada dia mais. O tempo dele foi respeitado, para que essa adaptação fosse feliz e não cheia de choro. Desde o primeiro dia foi muito bem recebido e logo se sentiu seguro para brincar e interagir com as crianças. Um ambiente calmo e acolhedor, com crianças felizes que criavam brincadeiras divertidas a todo momento. Não vi brigas, birras, choro e disputa por brinquedos, apenas crianças com suas imaginações brincando juntas, como uma grande família e uma professora amorosa que acalentava e impulsionava a brincadeira.
   Acredito que independente de como seja essa adaptação, ela é forte e intensa. Chorei, sofri e me senti com uma parte de mim sendo arrancada. Fiquei feliz, alegre e tranquila pelo lugar onde ele estava sendo recebido e por quem cuidaria dele. Muitos sentimentos de uma vez só, algo difícil de explicar e acredito que difícil de compreender também. Parecia que ninguém me entendia, na verdade nem eu mesma e até me recriminava pelos meus sentimentos, afinal estava feliz por ele ir para a escola. Mas percebi que meu sentimento era o mesmo de outras mães quando conversei com uma amiga que já tinha passado pela experiência e relatou tudo de forma semelhante.
Acredito que a gravidez  impulsionou o sentimentos e exagerou as emoções. Então tudo eu sentia intensamente, tudo me abalava de forma descontrolada e nada parecia me fazer voltar aos eixos. Enfim, vivi intensamente o momento, confesso que até demais!
   E essa adaptação não é um simples “colocar na escola” ou “passar as tardes lá” é uma mudança na minha vida, na nossa família, na nossa rotina, enfim, em tudo. Agora estamos entrando no ritmo e tudo parece bem mais normal. Mas até o final de março tudo era diferente, cansativo e custoso. Minhas tardes passaram a ter horários e muito trabalho. Eu passei por mudanças que demorei a perceber e isso me levou a angústias, tristezas e inconstâncias, até reencontrar meu rumo ou ver um novo rumo para minha vida. Não só por conta da escola, mas da gravidez, que me pede outro ritmo de vida e me faz ter um novo olhar a respeito do que eu faço e de como ajo. Mas isso nem sempre é tão fácil de perceber e às vezes vamos levando até não poder mais para aí enxergar e realmente acreditar que mudanças precisam ser feitas, mesmo que o que vem a seguir ainda não seja claro e não esteja concreto.
   Mas algo além do que vemos nos move, como um vento que sopra sem ser visto, apenas nos mostrando a direção. E dessa vez, o vento veio em forma de música, que soou mais alto no meio de uma conversa com meu marido e que há algumas semanas ecoa dentro de mim e faz meu filho dançar loucamente quando escuta.

  

“Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido

Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta "responsa"
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir

Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol


[...]


O amor é assim, é a paz de Deus em sua casa
O amor é assim, é a paz de Deus que nunca acaba...”

(Lugar ao sol - Charlie Brown Jr)





   A paz que procurava veio como resposta quando a escutei e tive a certeza das minhas decisões, do meu novo ritmo. Uma paz interior que não tem explicação, é algo pessoal que cada um sente e tem plena certeza quando encontra.

   Depois desse dia, um volume maior de trabalho chegou e está realizado com muito amor. Bolos de maçã sob encomenda que adoçam a vida das pessoas. Um envolvimento maior na escola do meu filho, um olhar diferente para minha gravidez. A chegada da Ágatha passou a ser mais real, com roupinhas rosa e lilás preenchendo nossa casa e expectativas.
   Agora consigo ter clareza nos pensamentos e foco nas minhas atividades. A energia incontrolável e intensa do verão estava dispersa dentro de mim, me impedindo de dar passos na direção que gostaria gerando frustração e gasto de energia. Mas o outono trouxe transformações, novos pensamentos e um olhar mais claro e nítido sobre tudo. Às vezes é preciso limpar os vidros da janela para enxergar melhor. A sujeira atrapalha, mesmo parecendo tão sutil.
   Agora ganho um abraço e tchau na chegada da escola e se converso mais de cinco minutos com a professora ele diz “tchau mãe”, como quem quer dizer, você não vai embora? E quando chego para buscá-lo recebo aquele abraço apertado e se converso mais de cinco minutos com a professora ele diz “vamos mãe”, me puxando para ir embora.

   E assim são nossos dias, com idas e vindas... cheios de vida!
 

“Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente...

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa”

(Por Enquanto - Cássia Eller)