quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Tesouros da infância

   
   Hoje foi o penúltimo dia de uma caminhada que começou este ano, com o dia-a-dia em um jardim Waldorf. Tímidos e cheios de emoções foram os primeiros dias, tanto meu como dele. Aos poucos nos soltamos e desfrutamos desse ritmo gostoso, o ir e vir numa sala que parece nosso lar, com pessoas que parecem grandes amigos desde o primeiro encontro. Nossos dias passaram a ser mais musicais, sempre com novas historias que o Nathan trazia para casa, contando as brincadeiras que fazia em suas tardes. Também chegava com lindas obras de artes, flores do jardim, pão e tesouros entregues pela professora. Nossa casa passou a ter mais vida, ficou mais florida, alegre e cheia de movimento. A cada ida na escola uma conversa gostosa de pais e inspiração para ser mãe ao ver a sala decorada, as crianças brincando e a professora inventando algo novo para eles.

“Doce é sentir
Em meu coração
Humildemente
Vai nascendo amor...

   Um ambiente tranqüilo, onde vejo meu filho crescer e desabrochar para brincadeiras, desenhos e atividades novas. Um ambiente acolhedor, onde sempre tem uma professora sorridente para recebê-lo e convidá-lo a entrar. Uma sala com cheiro de casa, onde chego e não tenho vontade de ir embora. E quando encontro alguma mãe é o que acontece, a conversa começa na porta da sala e termina fora do portão da escola.

...Doce é saber
Não estou sozinho
Sou uma parte
De uma imensa vida...

   O Natal traz emoção, reflexão de tudo que foi vivido e expectativas para o que virá. E hoje a emoção foi naquela sala onde meu filho passa todas as tardes. O encerramento das atividades, com pais e crianças juntos vivenciando mais um momento especial. Sentamos nas mini cadeiras deles e ouvimos a professora falar, com emoção, deste ano que termina. Após sua fala recebemos presentes, aqueles presentes preciosos que preenchem o coração. Para ele um cesto de feltro com tesouros dentro: pedras preciosas, conchas, sementes. Para os pais, obras de arte feita pelos nossos filhos: desenhos em aquarela e giz de cera feitos ao longo do ano e um pequeno relato sobre o Nathan na escola.


   Experiências que nunca passei e que têm me emocionado desde o inicio da semana. Os últimos dias de escola, a preparação para as férias. Esse ir e vir que terá uma pausa. O ritmo que terá outro ritmo!
   Estar em uma escola Waldorf é emocionante, como aluna e como mãe. Minha jornada como aluna já terminou há muitos anos, mas minha jornada como mãe apenas começou! Estou adorando cada momento e espero o próximo a ano para ver o que virá. Enquanto isso, vivo intensamente as emoções finais deste ano.

...Que generosa
Reluz em torno a mim
Imenso dom
Do Teu amor sem fim...

   Acredito que nem todo mundo entende, pois é provável que os últimos dias da maioria das escolas sejam comuns, iguais a todos os outros. Mas numa escola Waldorf tem magia, tem musica, tem participação dos pais, lanche gostoso e comemoração por um ano juntos nessa turma que é uma família. Aquela conversa que não dá vontade de acabar, aquela brincadeira que nunca cessa e a presença da professora, sempre amorosa e disponível para cuidar das crianças e ouvir os pais.
   Não existem muitas palavras para descrever, talvez nenhuma palavra descreveria realmente como é estar nesse ambiente. Só quem vive entende e só quem acredita vive essa magia, esse jardim encantado, cheio de preciosidades, as nossas crianças. Um mundo em que quero viver, no qual acredito que um dia existira. Por enquanto é um tesouro da infância, pois só as crianças conseguem ter esse encantamento pelo mundo e pelas pessoas. Mas quem sabe um dia resgataremos completamente a criança que um dia fomos e conseguiremos viver com encanto e simplicidade.


...O céu nos deste
E as estrelas claras
Nosso irmão sol
Nossa irmã lua

Nossa mãe terra
Com frutos, campos, flores
O fogo e o vento
O ar, a água pura

Fonte de vida
De Tua criatura

Que generosa
Reluz em torno a mim
Imenso dom
Do Teu amor sem fim...”

(Doce é sentir – Ziza Fernandes)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Criar faz bem e é preciso

   
coroa para os reis
 A maternidade me levou a explorar a criatividade de formas diferentes. Muitas vezes pela empolgação de inventar uma atividade, outras pela necessidade do momento, de uma brincadeira que acontecia e precisava de um utensílio, de um dia de chuva em casa ou uma simples vontade do meu filho.
   Mas, o que mais me move nessa vida de idéias e criações é a vontade de ver meu filho se desenvolver, viver e crescer ao máximo, mesmo que as paredes de nosso apartamento sejam o limite e nosso quintal seja a sacada. Não tem problema, fazemos circuitos de corrida, colocamos rede no meio da sala, fazemos floresta na sacada e fogueira de São João também! Um apartamento é limitador, mas estar aqui não nos impede de fazer o que queremos, apenas adaptamos nossas idéias para caberem dentro dessas quatro paredes. E dentro delas, meu filho cria brincadeiras incríveis, utiliza caixas de papelão de inúmeras formas, mora em cabanas itinerantes construídas pela casa inteira, faz pintura, jardinagem, culinária, corrida, dança, música e ultimamente tem treinado rapel numa corda pendurada em seu quarto.

cabana com fogueira

cabana na mesa
  
cabana musical



cabana no quarto






asas para voar na praça
   Enfim, ter habilidades com as mãos ajuda a criar coroas para reis, capas para os bonecos que precisam voar e asas para o Nathan. Binóculo para ver melhor os bombeiros surfistas que andam pela praia, escudo de guerreiro, espada de cavaleiro, martelo do Thor. Enfim, tudo que sua brincadeira necessitar e nossas habilidades permitirem fazer.
   Criar é preciso e perdemos essa incrível capacidade a medida que crescemos. Quanto mais adultos, menos criativos e mais engessados e presos a padrões e tecnologias nos tornamos. Menos livres para nos expressar e sermos o que desejarmos ser.
   Ser mãe resgata esse criar puro e livre. Ser mãe me ajuda a vencer minhas limitações e criar muito além do que imaginava conseguir. Ser mãe é superação a todo o momento. É só deixar ser... e descobrir o que foi criado dentro de nós que as vezes nem sabíamos que existia. Ideias, atividades, historias, soluções, comidas, conversas... Tudo isso são criações e estão dentro de nós. É só procurar!

Todos têm uma criança alegre dentro de si, mas poucos a deixam viver".

   Criatividade é o que acontece quando algo inesperado se desenvolve fruto dos espaços ainda não preenchidos dentro de nós. Se não há espaço vazio, nada pode ser criado. Se tudo esta cheio é porque uma limpeza precisa ser feita para que algo novo seja criado.

andando de carruagem
cozinha de papelão

andando de trem

   A criança é assim, um enorme vazio que vai sendo preenchido com vivências, observações, histórias e pessoas. Aos poucos esses elementos vão se relacionando dentro dela criando brincadeiras inéditas. E quanto mais espaço há para esses elementos se relacionarem, mais criativa a criança é, mais ela pode inventar e mais ela pode ser. É preciso espaço para criar, silêncio para fazer acontecer, liberdade para inventar e tempo para ser o que se precisa ser...criança!


escudo
bombeiros surfistas




"A criança é alegria como o raio de sol e estímulo como a esperança".

terra


água
tinta








domingo, 2 de novembro de 2014

A corrida do cesto


   Desde que começamos a incrível missão de educar nosso filho, buscamos incluí-lo nas atividades da casa e ensiná-lo como isso pode ser bom e divertido ao invés de um fardo ou algo chato de ser feito. Então, desde pequeno ele nos ajuda a colocar as roupas para lavar, a cozinhar, fazer sucos deliciosos, lavar a louça, aspirar a casa e outras coisas que demonstra ter interesse. Nunca o forçamos a nada, acreditamos que este não é o caminho, mas sempre o  convidamos para fazermos as tarefas juntos e muitas delas ele faz com grande alegria (ler Minha querida escada)
   Recentemente queríamos lhe ensinar um novo hábito, o de colocar as roupas sujas no cesto, pois muitas vezes as roupas ficavam jogadas no banheiro depois do banho. Certo dia, meu marido conversou com ele e explicou que deveria colocar suas roupas no cesto, que era importante, que seria um trabalho em equipe, cada um fazendo a sua parte e deu todos os argumentos lógicos para isso. Ele simplesmente disse que não queria e que não gostava de colocar a roupa no cesto. A conversa terminou por ali, sem muitas possibilidades de seguir em frente. Eu estava na sala escutando tudo e percebi que aquilo não ia dar certo, que meu marido só ia se estressar tentando convencer o Nathan e que ele ia insistir em não colocar as roupas no cesto.

   Bem, fiquei pensando a respeito, tentando encontrar uma forma de resolver a situação e conseguir ensinar este novo hábito ao meu filho. No meio dessa “atividade pensante” surge uma ideia: e se inventássemos uma corrida, talvez a corrida do cesto para ele sair correndo com a roupa e colocar no cesto? Talvez dê certo! Como o Nathan esta numa fase muita ativa, tudo para ele é movimento e ação, pensei que seria uma boa ideia, já que tudo ele faz correndo, pulando, inventa inúmeras brincadeiras desse tipo a cada dia e adora uma corrida com obstáculos.
   No dia seguinte contei para ele que havia uma nova corrida chamada “corrida do cesto”. Ele tinha que pegar a roupa suja, sair correndo até o cesto e a gente ia ver quem chegava primeiro. No mesmo instante ele saiu correndo pela casa até o cesto empolgadíssimo e comemorou sua vitória ao chegar primeiro no cesto com suas roupas. Logo quis mais roupas. Encontrei mais algumas dele, depois da sua irmã e depois nossas roupas. Cada roupa que ele encontra para levar no cesto é uma alegria, principalmente porque ele diz ser muito rápido, sempre chega primeiro!
   Depois dessa corrida surgiram outras, como a “corrida do balde”, onde ele coloca as roupas que precisam ficar de molho. Também tem a “corrida do lixo”, onde ele coloca as fraldas da irmã e alguns outros lixos que aparecem pela casa. E a última é a “corrida da luz”, que acontece quando ele vai dormir e, após  historia, sai correndo da sua cama para apagar a luz do quarto.
   Um novo hábito existe no meu filho e uma boa lição para nós, de que tudo pode ser ensinado de forma lúdica e divertida. Uma ideia simples pode fazer uma grande transformação naquilo que estamos tentando ensinar e em como as crianças irão aprender. Nem sempre essas ideias surgem ao longo dos obstáculos que encontramos na educação dos filhos, mas o esforço compensa, pois viver em “pé de guerra” ou estressado para que eles aprendam as lições não vale a pena, não vale a vida. Nossos dias têm sido mais divertidos e ele sempre pergunta se tem corrida do cesto.

   

   Minha mente criativa tem várias ideias, mas algumas são extraordinárias, como essa. Nessas horas percebo que há algo além de mim que me conduz, são as ideias que vem do céu e essas são espetaculares e já causaram inúmeras mudanças na nossa casa. Estar aberto a essas inspirações torna a vida incrível e a criação dos filhos menos difícil e mais divertida. Vale a pena!




"A cada pôr do sol um novo horizonte


A cada amanhecer uma nova inspiração

A cada sorriso uma nova alegria

A todo instante uma nova emoção".



terça-feira, 30 de setembro de 2014

Precioso nascimento

   Estava a sua espera. Não sabia quando viria e de que forma chegaria a este mundo, mas aguardava tudo ser no seu tempo, mesmo que já estivesse exalando ansiedade, afinal já se passavam 40 semanas e alguns dias e nenhum sinal de sua chegada. Meu médico, animado e convicto disse que logo entraria em trabalho de parto. Tentei me agarrar em suas palavras e ficar tranquila, apesar de ser quase impossível fazer a segunda parte! Estava com medo de não entrar em trabalho de parto e ter que induzir e talvez não conseguir um parto natural como gostaria muito. Mas continuei esperando... Estava tudo bem com a Ágatha, seus batimentos, sua posição, líquido na bolsa. Só faltava ela querer vir para este mundo real.
   Alguns dias se passaram... Acordei com disposição, como quase nunca acontecia. Dei uma geral na casa, estava tudo cheiroso e os meninos chegaram a noite, por volta das 20h. Eu estava relaxando no sofá e o Nathan veio brincar comigo e com a Ágatha. Apertou a barriga mais forte, como não costumava fazer. Mexeu para um lado, para outro, apertou e brincou. Alguns minutos depois senti um líquido escorrer pelas pernas. Que alívio, a bolsa estourou. A pressão na barriga estava indo embora e minha ansiedade também. Em breve ela chegaria, que alegria!
   Ligamos para o Dr. Fernando que nos orientou para aguardar as contrações começarem. E logo iniciaram, por volta das 20:30h. Estava tudo tranquilo, eu sentada no sofá respirando fundo quando a contração começava. Aos poucos se intensificaram. Ficar quieta no quarto foi necessário, com pouca luz e barulho, respirando fundo, tentando encontrar posições que aliviassem as dores. E essas dores eram fortes, mas no pensamento eram aceitas pois seriam para algo bom, o nascimento.
   Por volta da meia noite estava com muita dor e decidimos ir para a maternidade. Minha mãe ficou com o Nathan e nós partimos, pensando que por lá ficaríamos. Aos ser examinada descobri que estava com 2cm de dilatação e ainda tinha um longo caminho pela frente. Meu médico e a plantonista acharam melhor voltar para casa. E era o que eu queria também, ficar no meu canto escuro e quentinho e não naquele ambiente desconfortável do hospital. Chegamos em casa 1:30h e fui direto para o quarto e meu marido foi cuidar do Nathan que tinha despertado naquela hora.
   As contrações estavam mais frequentes, a dor intensa e junto com ela um gemido, involuntário quando soltava a respiração. A dor tinha som e ele ajudava a passar pelo processo. Mas era alto e o Nathan nem conseguia dormir. Tudo estava muito intenso e meu raciocínio não existia. Era apenas instinto, sem pensamento ou emoção, apenas lembranças das conversas do pré-natal, das leituras que fiz e das conversas com outras mães, pois experiências anteriores eu não tinha. Não tinha noção de tempo, espaço e do que acontecia ao meu redor. Era apenas eu e a dor no processo de nascimento. A dor aumentou, os gemidos também e meu marido me levou para o chuveiro. Por lá fiquei e não conseguia sair, era muita dor, não sabia como suportaria aquilo por muito mais horas, afinal estava só com 2cm de dilatação e precisava chegar a 10cm. Sentia vontade de fazer força, muita força, mas nada aliviava. Já estava desejando um remédio, uma cesárea ou qualquer coisa que me trouxesse alívio. Minha mãe ligou para o Dr. Fernando, explicou a situação e o detalhe: estava com vontade de fazer cocô. Hora de ir para a maternidade!

   Rapidamente vesti a roupa e me dirigi à porta. A cena era: o Nathan chorando, pois não queria que a gente fosse a maternidade e eu com dificuldades para caminhar. Uma pausa na sala para mais uma contração. Eu me contorcia, coloquei a mão por dentro da calça e percebi que ela estava chegando, senti sua cabeça. Quando falei isso meu marido me levou para o sofá, sentei, ele puxou minha calça e ela nasceu. Nessa ordem e com essa rapidez.  Ele quase não teve tempo para ampará-la. Não sei direito como tudo aconteceu, só sei que estava no sofá com minha filha nos braços olhando para mim, com um olhar intenso e calmo. Ela pouco chorou, nasceu tranquila e rápido, muito rápido. Logo a aquecemos com uma coberta e uma touca para não perder calor. Liguei para o Dr. Fernando, que já estava a caminho da maternidade e disse para ele vir que a Ágatha tinha nascido. Isso tudo aconteceu por volta das 3h da madrugada, duas horas e meia após saber que estava com 2cm de dilatação. Uma evolução de trabalho de parto veloz e inesperada. Enquanto esperávamos fizemos um registro do momento com nossa família ampliada. Nathan assistiu tudo e ficou feliz por estarmos ali e não na maternidade. Logo que ela nasceu ele sentou do meu lado para conhecer sua irmã. Após 15 minutos Dr. Fernando chegou para retirar a placenta e fazer todos os procedimentos. Como ele não faz parto domiciliar, não tinha nenhum material. Utilizou luvas cirúrgicas da minha vizinha estudante de medicina, fio dental para amarrar o cordão e meu marido utilizou uma tesoura de cozinha para cortar o cordão umbilical. Sem contar as inúmeras toalhas que minha mãe usou para limpar todo o sangue da sala.
   Até retirar a placenta sentia um pouco de dor, depois senti um enorme alívio  E logo fui para o chuveiro me lavar para que o médico pudesse me examinar. Por onde passava deixava um rastro de sangue. Forramos minha cama para que pudesse deitar e ser examinada. Sofri um pouco de laceração e precisava receber alguns pontos, mas estávamos muito bem e o doutor gostaria de nos deixar em casa, para que não precisássemos ficar internadadas seguindo o protocolo da maternidade. Entretanto, não possuía materiais para os procedimentos e cuidados pós-parto. Ele caminhava pela casa tentando achar uma solução. Até que conseguiu falar com a Mayra Calvette, enfermeira obstétrica que faz parto domiciliar. E ela logo veio com tudo necessário para cuidar de nós duas. Meu quarto virou um centro cirúrgico, totalmente adaptado as pressas para essa situação inesperada.

   Anestesia local e alguns pontos em mim. Ágatha permanecia quietinha. O dia amanheceu e ainda estávamos ali. Agora a Ágatha recebia os cuidados da Mayra. Nasceu com 2.980kg, 50cm e bons reflexos. Como ela estava enrolada num pano, precisou tomar um banho para limpar o cocô que era difícil de sair da pele e se vestir. Depois foi minha vez de tomar banho e me arrumar também. A queda de pressão dificultava para levantar e caminhar.
   Com tudo isso acontecendo o Nathan ficou excitado e só foi dormir as 7h da manhã. Minha mãe ficou limpando a casa inteira que estava cheia de sangue e auxiliando a equipe no que eles precisavam. Sem planejamento tudo fica mais complicado.
Minha filha tinha nascido a menos de 12h e eu estava em casa, deitada no sofá, ao lado do meu filho e do meu marido. Não existe sensação melhor que essa!
   Foi bom estar em casa, viver a experiência do parto natural. Não vivenciei a emoção esperada no nascimento, pois tudo foi muito inesperado e rápido e quando paro para lembrar não lembro dos detalhes, apenas que senti sua cabeça no meio das minhas pernas e alguns segundo depois estava olhando para ela nos meus braços. Mas vivi algo único, quase raro. Um parto natural desassistido após uma cesárea. Isso prova que o parto é algo natural, feito pela mulher. Um momento pessoal, singular que se desenvolve muito melhor se tiver o mínimo de intervenção. O que vivi mostra que a criança tem força, expressa o que quer e nos mostra desde o nascimento como quer vir ao mundo e o que fará nele.
   Segundo Dr. Fernando Pupin e a Mayra meu parto foi atípico, principalmente por ter sido após uma cesárea. Rápida dilatação e expulsão, em casa, sem nenhum profissional por perto. Tudo fora do comum.
   Minha filha quis nascer assim, dessa forma preciosa e sem intervenções. Já faz dois meses que sinto sua intensidade no choro, nos movimentos, no olhar e aos poucos estamos nos conhecendo. Esse início é difícil e requer paciência e amor. Mas pensar nesse nascimento faz-me lembrar que ela não esta aqui para passar pela vida e sim para vivê-la com intensidade.



   
   Essa postagem não poderia terminar sem um agradecimento especial a esses dois queridos profissionais que me atenderam com amor e respeito, que fizeram tanto por mim no pós-parto. Nem tenho palavras, mas toda vez que olho para minha filha lembro de vocês e agradeço por fazerem parte dessa história. Pessoas que fazem a diferença, que mudam o mundo e são profissionais humanos, de bom caráter. Parabéns a vocês Dr. Fernando Pupin e Mayra Calvette!

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O sabor da felicidade

   Estamos em ritmo de férias, as primeiras férias do Nathan, as últimas férias como filho único. Um momento especial, que estamos aproveitando e vivendo cada dia de uma vez. Até então não sabia o que era férias de um filho, mas agora percebo que férias é uma quebra de rotina e horários necessária e importante para revigorar as forças, para estar lado a lado com a criança e percebê-la por inteiro, já que estamos passando quase o tempo todo juntos.
   Como estou no final da gestação fiquei um pouco apreensiva com esse tempo que teríamos juntos, já que meu ritmo está bem devagar e estar com uma criança requer bastante energia. Mas, a cada dia fui percebendo o quão prazeroso era inventar programas, relembrar o que fazíamos quando eu cuidava dele em casa e exercitar minha criatividade para aqueles dias chuvosos ou quando estava muito cansada. Enfim, estar de férias tem me renovado e me preparado para a chegada da Ágatha. Uma oportunidade única de aproveitar o tempo com o Nathan, já que em breve terei que me dedicar mais a sua irmãzinha. Um momento especial que estamos vivendo e trocando experiências. Uma oportunidade de percebê-lo e ver como tem se desenvolvido, como tem iniciativa e prazer em ajudar. Como lava bem a louça, com atenção e habilidade, como sabe mexer a massa do bolo e cortar legumes. Perceber por completo sua autonomia nas tarefas que já consegue fazer e em tudo que já aprendeu na escola só foi possível com esse tempo que passamos juntos.
   Relembrei o quanto gosto de educar e observar o desenvolvimento do meu filho e como estar ao lado dele me instiga a ser mais criativa,  a pensar em diferentes soluções, apreciar o que há de belo na natureza e viver melhor. A rotina e os horários estavam me cansando e esta pausa ajudou a renovar o que já estava esgotado dentro de mim.



   



   
   Além de ficar em casa e inventar brincadeiras entre a sala e os quartos, fizemos piquenique na Beira Mar, encontramos amigos que quase não víamos, passeamos com primos, fizemos lanches gostosos, conhecemos novas pessoas. Ele deu bastante beijo na Ágatha e eu bastante beijo nele, ficou de pijama o dia inteiro e eu nem me irritei, aprendeu a passar aspirador na casa e agora quer aspirar tudo. Sem contar todas as brincadeiras cheias de energia com o papai, os pulos, saltos e cambalhotas que só eles fazem. 
   Também tivemos uma noite especial para comemorar São João, já que não pudemos ir na festa junina da escola. Fizemos o passeio pela casa com sua lanterna, que foi confeccionada  na escola e logo depois acendemos uma mini fogueira na nossa sacada. Nem sei como isso foi possível, mas meu marido preparou tudo e ficou maravilhoso. O Nathan pulou a fogueira, nós cantamos muitas músicas e seus cavalos também participaram desse momento especial. A felicidade  dele era tanta que gritava para os vizinhos dizendo que era noite de São João e cantava as musicas bem alto. O fogo nos aqueceu e deu aquele gostinho de casa e quintal, que um dia iremos ter. Enquanto isso, nosso apartamento não nos limita, apenas adaptamos as ideias para fazer o que queremos. Só ainda não temos o cachorro, cavalo, boi e ovelha como o Nathan quer. Mas esse dia vai chegar!

   
   
















   Férias especiais sem nada de especial. Mas o que seria especial? Para muitos uma grande viagem ou ter tudo liberado, como guloseimas, TV e compras, para nós, tempo ao lado do nosso filho e a simplicidade dos dias comuns, aqueles dias que tínhamos há seis meses, antes da escola, onde fazíamos nossos horários e cada dia inventávamos um programa diferente. Percebi que nossa antiga rotina era férias e que essa nos trouxe até aqui, me transformando numa mãe mais completa e ajudando meu filho a ser seguro, educado, amoroso, com valores verdadeiros. Hoje a rotina tem horários, é semelhante de 2ª a 6ª, contudo tem me proporcionado tardes sozinha, com mais tempo para trabalhar e oferecido ao Nathan oportunidades de vivenciar novas experiências ao lado de outras crianças, num ambiente escolar acolhedor. Um novo momento bastante importante em nossas vidas.
   Daqui alguns dias nossa rotina mudará novamente. Ágatha está chegando... um bebê e uma criança de quase quatro anos. Vamos nos readaptar e aprender a viver de uma nova forma, certamente ainda melhor. Mais uma para amar, educar e aprender. Um desafio com sabor de felicidade. Isso é viver! Ter filhos é o melhor jeito de aprender o que precisamos nessa vida e agora me preparo para mais uma jornada com entusiasmo e um pouco de medo também.

   Últimos dias de férias, últimos dias de barrigão. Deus faz perfeito! E essa perfeição esta nos olhos das crianças, a obra divina mais linda que existe. Que possamos apreciar o belo nesse olhar e sorriso e aprender a viver como as crianças!

sábado, 12 de julho de 2014

Mais mãe

   Um novo ritmo em minha vida chegou desde que soube da segunda gravidez. Um ano diferente pela frente, louco, intenso, cheio de emoções e diferente de tudo que tinha vivido até então. Esperava por algo e tudo que acontece é diferente. Previa uma reação e me deparava com o contrário. E assim foi, nesses últimos nove meses... Nova rotina, adaptação na escola, muitos bolos para fazer, pouco bordado, emoções a flor da pele, cansaço e sono sempre, Ágatha mexendo o tempo todo, o tempo passando cada vez mais rápido. Enfim, muita coisa em pouco tempo ou pouco tempo para tanta coisa. Assim tem sido minha vida e até agora estou tentando me adaptar a isso, sendo que em breve tudo mudará novamente com a chegada da Ágatha.
   Esse ritmo foi tão acelerado que pouco escrevi e me dediquei a gravidez como imaginava que faria. Mas muito tenho aprendido nesses meses... O principal aprendizado é que a segunda gestação nada se compara a primeira, é tudo diferente, especialmente o jeito de aproveitá-la! Isso às vezes gera frustração e até tristeza, um sentimento de “menos mãe”, pois parece que tudo fica em cima da hora, quase não consigo relatar a gravidez e criar coisinhas bonitas como fiz para o Nathan... Mas quando volto para realidade vejo que mãe de dois é metade para cada, muito diferente de mãe de um! Enquanto a Ágatha mexe, empurra e aperta tenho que brincar, dar banho, fazer dormir e passear com o Nathan. O “mais mãe” disso tudo é criar uma relação entre eles, ver nascer um irmão, que abraça a barriga, conversa com a irmã, sempre a inclui nos acontecimentos e no que ele faz, fica feliz com as roupinhas que ela ganha e curte cada coisinha que vai acontecendo até sua chegada.

   
   A segunda gravidez também vem com incertezas e insegurança, principalmente no que se refere a criar dois filhos. Como será essa rotina, esses relacionamentos e todos os sentimentos envolvidos nisso? Muitos questionamentos passam pela cabeça, às vezes um sentimento de será que vou conseguir? E depois a certeza de que sou mais uma das muitas que tem dois filhos e dão conta do recado! O nascer de uma mãe de dois também chega aos poucos, como uma lagarta transformando-se em borboleta. É um processo de vida, pois há uma nova vida a caminho. É um transbordar de sentimentos e uma incerteza de ações. Sentimentos que se cruzam e logo seguem no curso do rio. Pensamentos que dominam e depois são dominados.


   Aprendendo a ser mãe de dois, ainda sendo mãe de um. Tudo toma forma aos poucos, como uma pedra de um rio sendo lapidada pelas águas. E agora me encho de ansiedade na espera de sua chegada. Já é linda sem eu conhecê-la, é intensa e cheia de vida. Quando chegará não sei, ela decidirá, mas certamente chegará para aumentar ainda mais o nosso amor e fazer transbordar nossos corações.
   Cada um diz uma coisa e todos adoram dizer algo. Nada se sabe ao certo, pois nesta vida só sabemos o que acontece agora. Então quando o agora dela chegar eu saberei e sentirei o que for para sentir, sem muitas expectativas e teorias. Apenas sei que será lindo, pois ser mãe de um é maravilhoso e ser mãe de dois será melhor ainda!









          Vejo que você está crescendo
Bem quentinho aqui dentro
Papai me abraça inteira
Pra sentir você também
Um beijo E a certeza que você está bem

Eu arrumo todo nosso lar
Me arrumo só pra te esperar
Te sinto noite e dia dentro desse barrigão
Um peso de alegria
Perto do coração



          (Isadora Canto)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Na simplicidade de nossas mãos

   Este ano realizamos uma Páscoa com nossas mãos. Inspirados pelas atividades na escola do Nathan e movidos pela vontade de utilizar nosso corpo para produzir algo com verdadeiro valor, utilizamos essas atividades na preparação da nossa Páscoa. Ideias simples, onde pudemos trabalhar em família, vivenciar esta época da Páscoa, aprender e nos surpreender com os resultados.

   Começamos com a pintura dos ovos, cada um com cor diferente, explorando nossa criatividade e concentração para pintar sem quebrar nenhum deles. Tivemos um resultado bonito e colorido, com casquinhas pintadas para nossas famílias e amigos.
   Também preparamos as cestas e para isso trabalhamos descascando milho e deixando a palha para secar. Depois fizemos um lanchinho com o milho cozido para repor as forças que gastamos ao descascá-los. As cestas foram feitas com papéis pintados e dobrados de forma muito simples. E para incrementá-las decidimos fazer pães em forma de coelho, onde cada um pode colocar seu ingrediente para que este fosse elaborado a seis mãos. O Nathan amassou a cenoura, meu marido preparou a massa e eu modelei os coelhos. O resultado foi saboroso, sem muita cara de coelho e gosto de cenoura.



   Há algumas semanas já havíamos preparado nosso cantinho da Páscoa onde lagartas passeavam e borboletas pousavam ao lado de uma árvore com ovos desenhados por nós e coelhos. Um cantinho especial que trouxe para nossa casa esse espírito de transformação e renascimento. E a nossa transformação foi dar total valor ao que fizemos com nossas mãos sem nos preocupar com o consumismo ou com os chocolates magníficos das vitrines das lojas. Tudo isso feito de forma simples e cheia de entusiasmo. “Trabalho é amor tornado visível” (Khalil Gibran)
   Ficamos cansados de tanto produzir na mesma proporção em que ficamos felizes ao ver cada coisa que fizemos tomando forma ao longo dos dias. Uma satisfação e a certeza do valor  que existe naquilo que é feito pelas nossas mãos. “Todo o trabalho é vazio a não ser que haja amor”. (Khalil Gibran)



   Nossa Páscoa teve um sabor diferente, não tão doce quanto os ovos de Páscoa das lojas, mas muito mais saboroso, pois o nosso amor estava em cada detalhe. Foram cestas pequenas que transbordavam com o colorido do nosso trabalho e surpreendiam com a simplicidade em cada detalhe. O simples parece pouco, mas tornou-se grande e único, pois não se encontra mais, apenas pode ser visto por aqueles que decidem dar de si para que outros ainda possam se engrandecer e relembrar da beleza que há na simplicidade.
   Que possamos nos transformar, renascer e voltar a ser simples em tudo aquilo que ainda podemos fazer, em tudo aquilo que podemos ser.

Na simplicidade há mais beleza, 
Na simplicidade há mais delicadeza
Há mais sintonia com Deus, com a vida, com a natureza.


terça-feira, 8 de abril de 2014

Mudaram as estações



  

   As estações mudaram, o verão se foi e com ele um movimento incontrolável, cheio de energia e emoções, adaptação de vida e de sentimentos. E esse movimento foi intenso, parecia não caber dentro de mim e às vezes extravasava em choro, doença, emoção e alegria, para enfim se aquietar e me levar a mudanças.

   A adaptação na escola foi tranquila, Nathan foi chegando aos pouquinhos e ficando cada dia mais. O tempo dele foi respeitado, para que essa adaptação fosse feliz e não cheia de choro. Desde o primeiro dia foi muito bem recebido e logo se sentiu seguro para brincar e interagir com as crianças. Um ambiente calmo e acolhedor, com crianças felizes que criavam brincadeiras divertidas a todo momento. Não vi brigas, birras, choro e disputa por brinquedos, apenas crianças com suas imaginações brincando juntas, como uma grande família e uma professora amorosa que acalentava e impulsionava a brincadeira.
   Acredito que independente de como seja essa adaptação, ela é forte e intensa. Chorei, sofri e me senti com uma parte de mim sendo arrancada. Fiquei feliz, alegre e tranquila pelo lugar onde ele estava sendo recebido e por quem cuidaria dele. Muitos sentimentos de uma vez só, algo difícil de explicar e acredito que difícil de compreender também. Parecia que ninguém me entendia, na verdade nem eu mesma e até me recriminava pelos meus sentimentos, afinal estava feliz por ele ir para a escola. Mas percebi que meu sentimento era o mesmo de outras mães quando conversei com uma amiga que já tinha passado pela experiência e relatou tudo de forma semelhante.
Acredito que a gravidez  impulsionou o sentimentos e exagerou as emoções. Então tudo eu sentia intensamente, tudo me abalava de forma descontrolada e nada parecia me fazer voltar aos eixos. Enfim, vivi intensamente o momento, confesso que até demais!
   E essa adaptação não é um simples “colocar na escola” ou “passar as tardes lá” é uma mudança na minha vida, na nossa família, na nossa rotina, enfim, em tudo. Agora estamos entrando no ritmo e tudo parece bem mais normal. Mas até o final de março tudo era diferente, cansativo e custoso. Minhas tardes passaram a ter horários e muito trabalho. Eu passei por mudanças que demorei a perceber e isso me levou a angústias, tristezas e inconstâncias, até reencontrar meu rumo ou ver um novo rumo para minha vida. Não só por conta da escola, mas da gravidez, que me pede outro ritmo de vida e me faz ter um novo olhar a respeito do que eu faço e de como ajo. Mas isso nem sempre é tão fácil de perceber e às vezes vamos levando até não poder mais para aí enxergar e realmente acreditar que mudanças precisam ser feitas, mesmo que o que vem a seguir ainda não seja claro e não esteja concreto.
   Mas algo além do que vemos nos move, como um vento que sopra sem ser visto, apenas nos mostrando a direção. E dessa vez, o vento veio em forma de música, que soou mais alto no meio de uma conversa com meu marido e que há algumas semanas ecoa dentro de mim e faz meu filho dançar loucamente quando escuta.

  

“Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido

Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta "responsa"
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir

Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol


[...]


O amor é assim, é a paz de Deus em sua casa
O amor é assim, é a paz de Deus que nunca acaba...”

(Lugar ao sol - Charlie Brown Jr)





   A paz que procurava veio como resposta quando a escutei e tive a certeza das minhas decisões, do meu novo ritmo. Uma paz interior que não tem explicação, é algo pessoal que cada um sente e tem plena certeza quando encontra.

   Depois desse dia, um volume maior de trabalho chegou e está realizado com muito amor. Bolos de maçã sob encomenda que adoçam a vida das pessoas. Um envolvimento maior na escola do meu filho, um olhar diferente para minha gravidez. A chegada da Ágatha passou a ser mais real, com roupinhas rosa e lilás preenchendo nossa casa e expectativas.
   Agora consigo ter clareza nos pensamentos e foco nas minhas atividades. A energia incontrolável e intensa do verão estava dispersa dentro de mim, me impedindo de dar passos na direção que gostaria gerando frustração e gasto de energia. Mas o outono trouxe transformações, novos pensamentos e um olhar mais claro e nítido sobre tudo. Às vezes é preciso limpar os vidros da janela para enxergar melhor. A sujeira atrapalha, mesmo parecendo tão sutil.
   Agora ganho um abraço e tchau na chegada da escola e se converso mais de cinco minutos com a professora ele diz “tchau mãe”, como quem quer dizer, você não vai embora? E quando chego para buscá-lo recebo aquele abraço apertado e se converso mais de cinco minutos com a professora ele diz “vamos mãe”, me puxando para ir embora.

   E assim são nossos dias, com idas e vindas... cheios de vida!
 

“Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente...

Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa”

(Por Enquanto - Cássia Eller)